O homem, a criação
máxima de Deus, a razão da existência do mundo e do que nele há.
Quem é o homem para que
Dele te lembres e quem é o filho do homem para que o visites?
Essa indagação fora
feita pelo personagem mais intrigante da Palavra de Deus, Davi.
Analisando a biografia
deste homem, é possível notar um carinho especial de Deus para com ele. Apesar
de não possuir a mais bela aparência, nem as habilidades mais procuradas em um
homem, Deus escolhe Davi para ser o maior rei que o povo de Israel já teve em
toda sua história, ao ponto de Jesus, o filho de Deus ser chamado de filho de
Davi.
Esse homem se destacou
pelas suas conquistas, pela sua liderança e suas vitórias, mas não foram esses
feitos que fizeram de Davi um ser tão intrigante.
Apesar de ter sido um
grande rei, em determinado momento de sua vida, ele tomou atitudes que
mancharam gravemente sua trajetória.
A Bíblia narra que Davi
enviou Urias para frente de uma batalha e deu ordens para que os demais o
deixassem sozinho, afim de que ele morresse, podendo assim ficar com a sua
mulher para si.
Muitos afirmariam que
Davi além de desejar a morte de Urias também tenha figurado como partícipe/cúmplice
de tal fatalidade. Todavia, ele não apenas participou da morte de Urias, ele
foi o autor do homicídio.
Os estudiosos do
Direito penal moderno consideram como autor de um delito, aquele que possua o
domínio do fato, é a chamada teoria do Domínio do fato. Sobre essa perspectiva
jurídica, podemos concluir que Davi não somente desejou a morte de Urias, nem
tampouco participou dela, mas sim, foi o autor da morte de Urias, pois tinha
como agir de forma a impedir que o fato se consumasse.
Esse personagem bíblico
se deixou levar pelo que o apóstolo João em sua primeira carta, no capítulo 2,
denomina como a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba
da vida, o que pode ser resumido em duas palavras, cobiça e ostentação.
Humanamente falando,
tendo como critério, as leis, a moral e os bons costumes, Davi praticou o que
há de mais reprovável, repulsivo e gravoso dentro do seio social, ele deu cabo à
vida de outrem.
Biblicamente falando,
Davi praticou aquilo que todo homem faz desde que nasce, ele PECOU.
Não que o pecado seja algo
irrelevante, pelo contrário, o pecado é algo que Deus odeia, mas sobre o olhar
divino não há valoração nem hierarquia de pecados, todos pecaram e agora todos
carecem da glória de Deus na mesma proporção.
E isso sim faz de Davi
um ser bastante intrigante, pois apesar de sua condição pecaminosa a qual é
inerente a toda raça humana, ele conseguiu tirar dos lábios de Deus um elogio
que sem dúvida todo cristão gostaria de receber, “um homem segundo o coração de
Deus”.
O que tinha em Davi que
chamou a atenção de Deus ao ponto de ser elevado a tal posto, alguém conforme o
coração do criador?
Os teólogos reformados
de plantão poderiam refutar: “Não há nada no homem que chame a atenção de Deus,
não há nada que surpreenda a Deus, porque Deus é onisciente e soberano sobre
todas as coisas, ele escolhe amar a quem ele quiser não pelo que o indivíduo
faça e/ou seja, mas ele ama por causa da sua graça e misericórdia”, pensamento
esse que também comungo, mas a verdade é que Deus encontrou em Davi algo que
não encontrou em mais ninguém.
O olhar aqui lançado
sobre Davi em momento algum se confunde com o sentimento que o irmão mais velho
do filho pródigo lançou sobre ele, inveja, ciúme ou outra coisa do tipo.
A questão não é julgar se
Davi merecesse ou não tal título, mas o que ele tinha de tão especial que no
restante da humanidade não fora encontrado pelo Deus criador?
Poderia levantar diferentes
teses, uma mais improvável que a outra, mas não há como negar que a biografia
de Davi vem reafirmar a soberania salvífica de Deus, a graça redentora do pai
apresentada através de seu filho Jesus, a alegria do pai em receber de volta um
filho arrependido.
Davi particularmente não
é o meu personagem bíblico favorito, sempre me identifiquei mais com o apóstolo
Paulo. Talvez alguns religiosos diriam: “meu personagem bíblico preferido é
Jesus”, o que seria uma grande tolice, comparar Jesus, o Deus encarnado, com os
demais personagens bíblicos, que nada mais foram que pecadores usados por Deus.
Mas de toda forma, a
Bíblia tem muito a nos ensinar com a vida de Davi, não só com seus momentos de
glória, mas principalmente com seus erros e fracassos e mais ainda com seu
arrependimento e humildade.
Deus anda sobre a terra
a procura de verdadeiros adoradores, pecadores arrependidos, com o coração
humilde, quebrantado, contrito, sentimentos estes sufocados muitas vezes pela
vaidade, soberba e arrogância própria do ser humano.
Deus conhecia todos os
pecados de Davi, mas não olhou apenas para as fraquezas inclinações do coração
dele, viu em Davi um arrependimento genuíno, uma angústia profunda em virtude
de seus pecados, e um desejo imenso de fazer as pazes com Deus...